11 dezembro, 2009

Um deus dormiu lá em casa - 4

No existir monótono do ser humano, e tornado ainda infeliz pelos projetos não realizados, tudo seria bem mais venturoso se súbito um deus aparecesse. Eu não falo de um deus bíblico, muito poderoso, mas de um deus em carne e osso, não preocupado com a espiritualidade. Apenas capaz de transformar algum sonho em realidade, porque instrumentalizado se achasse para isso. Embora coubesse também ao eleito: abrir a porta, recebê-lo cordialmente (não se desleixando nos detalhes de cada situação) e indicar-lhe o quarto de dormir.
Eis a experiência - inesquecível - vivida pelo quarto de quatro eleitos que aqui deram seus testemunhos.

Lucas, 38, ufólogo - "Tenho lido tudo sobre o assunto, participado de inúmeros congressos... A ufologia é uma ciência e os ufos são naves espaciais que transportam seres alienígenas, acredito nisso. No tempo de que disponho, chova ou faça sol, armado de luneta posto-me no terraço de minha casa a perscrutar o céu. Certa vez, no terraço... eu ia até me recolher mais cedo, não estava com o aspecto de que ia aparecer algum ufo... Pois bem, mas surgiu algo que me encheu a vista. Não, eu não tinha bebido nem estava tomado de uma ilusão. No descampado, ao fundo da residência, vi que pousava um disco voador. E dele, minutos após, vi que descia um ser indiscutivelmente extraterrestre. Verde, presumíveis dois metros, a cabeça desproporcional ao corpo e com anteninhas, olhos bovinos, os braços finos, longos, com os dedos rentes ao chão... Caminhava arqueado. Um ufólogo tem de estar preparado para o grande momento, recebi o estranho com naturalidade. E graças ao tradutor de línguas - ele estava equipado de um - foi possível a comunicação verbal, de lá para cá e vice-versa. De maneira que, a noite toda, trocamos informações sobre coisas e fatos da Terra e de Cloros, o planeta dele. Clima, fauna, flora, sistemas de governo, esportes, religiões, G-20, de tudo um pouco. Fui interlocutor desse deus, porém não o deixei dormir. E não relaxei em meu papel nem quando amanhecia, com ela já a partir... Porque aproveitei para lhe fazer minha última pergunta, uma curiosidade que eu tinha... Perguntei-lhe: 'Como é que vocês transam sexo, lá?' E ele me respondeu: 'Assim, ao mesmo tempo em que os seus dedos agilmente sacolejavam os lóbulos das minhas orelhas.' Por sinal, fizera isso comigo muitas vezes durante a noite. Antes de ele partir, imaginei fotos, vídeo e tal, mas o habitante de Cloros me proibiu de fazer tais registros. Entretanto, eu tenho como provar esse contato de, digamos, quarto grau. Peço apenas que aguardem nove meses, talvez menos. Que a futura mamãe aqui vai deslumbrar o mundo, ora se vai..."

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