16 novembro, 2010

O centenário de Raquel de Queirós

Se viva estivesse Raquel de Queirós(*) completaria hoje cem anos de idade.
Nascida em Fortaleza, a 17 de novembro de 1910, Raquel foi escritora, dramaturga, tradutora e jornalista.
Aos vinte anos, ficou nacionalmente conhecida ao publicar "O Quinze", romance que mostrava a luta do povo cearense contra a seca e a miséria. Demonstrando preocupação com questões sociais e hábil na análise psicológica de seus personagens, a autora teve um papel de destaque no desenvolvimento do romance nordestino.
Foi primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e também a primeira a ser galardeada com o Prêmio Camões, o Nobel de Literatura do mundo lusófono.
Além de "O Quinze", destacam-se em sua vasta obra "As Três Marias", "Dora, Doralina" e "Memorial de Maria Moura". E vários de seus livros foram adaptados para o cinema e a televisão.
Faleceu no Rio de Janeiro em 4 de novembro de 2003.

Ilustração: Detalhe da estátua em tamanho natural de RQ, sentada num banco da Praça General Tibúrcio (Praça dos Leões), em Fortaleza.

(*) A grafia original do nome da biografada, Rachel de Queiroz, deve ser atualizada para Raquel de Queirós, conforme a onomástica estabelecida a partir do Formulário Ortográfico de 1943, por seguir as mesmas regras dos substantivos comuns (Academia Brasileira de Letras – Formulário Ortográfico de 1943). Tal norma foi reafirmada pelos subsequentes Acordos Ortográficos da língua portuguesa (Acordo Ortográfico de 1945 e Acordo Ortográfico de 1990). A norma é optativa para nomes de pessoas em vida, a fim de evitar constrangimentos, mas após seu falecimento torna-se obrigatória para publicações, ainda que se possa utilizar a grafia arcaica no foro privado (Formulário Ortográfico de 1943, IX). Wikipédia

Telha de Vidro
Raquel de Queirós
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...

A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.

Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!

Um comentário:

Paulo Gurgel disse...

Postagem republicada por Juvando em seu blog "Miscelânea cearense e nordéstea".
http://juvando.blog.uol.com.br/arch2010-11-16_2010-11-30.html#2010_11-17_17_55_33-6133997-0