21 abril, 2011

Mistura fina

por Fernando Gurgel Filho

A Igreja Católica sempre foi muito hábil ao incorporar hábitos seculares aos seus rituais religiosos.
Foi assim com o Natal, os festejos de São João - Santo Antonio e São Pedro aí incluídos - e a Páscoa.
A Páscoa, para os povos antigos do hemisfério norte, marcava a passagem do inverno para a primavera. Era a passagem de um tempo escuro e quase sem sol para um tempo de renascimento das plantas e das cidades.
Até hoje não se sabe como o coelho foi enfiado nessas comemorações, mas o tal bichinho sempre foi aclamado como o mais prolífero e tarado do reino animal. Daí a se transformar em fonte de renascimento foi um pulo.
Mas, e os ovos?
Dizem que uma velhinha estava sentada no ônibus e, ao seu lado, tinha um pacote. Um jovem ia sentando inadvertidamente, quando a velhinha quase deu um grito:
- Meu filho, cuidado com os ovos!
O jovem pegou o pacote e devolveu-o à velhinha:
- Seus ovos, senhora.
- Não são ovos, são pregos!
Pois é. Não é nada disso. Tal como coelho botar ovos e os ovos serem de chocolate. Nada a ver uma coisa com a outra, nem com a Páscoa.
Dizem, então, que tudo começou quando uma mãezinha, muito pobre, querendo alegrar os filhos naqueles festejos de final de inverno, pintou uns ovos, escondeu-os e pediu para os filhos procurarem, que teriam uma bela surpresa. Estavam nesta brincadeira quando uns coelhos passaram correndo e a mãezinha disse que estavam saindo dos ninhos, que foram eles que tinham botado os ovos pintados.
Como aqueles festejos davam mais alegria aos pobres mortais que ir às igrejas, os padres incorporaram esses festejos ao calendário religioso, comemorando como a ressurreição de Cristo, e o coelho virou o símbolo do renascimento, da fertilidade e da própria vida.
Aí foi um vale-tudo. Misturaram comemorações hebreias, egípcias e europeias, num panculturalismo muito salutar, mas que depois viriam a proibir com pena de morte, em qualquer outra cultura ou religião.
Depois da mistura toda, não satisfeitos com o consumo excessivo de alimentos, por força do Bolsa Família, ainda incluíram um jejunzinho básico e a probição de comer carne vermelha. Estavam criados os iogues indianos e os veganos, mas isto é outra história.
Quando tudo tinha virado apenas história, os portugueses enfiaram uns bacalhaus no meio e o Chacrinha popularizou a prática, os supermercados passaram a vender lascas de bacalhau que não se sabe se são mesmo de peixe, o povo sem dinheiro passou a comer sardinhas e os índios, o Bispo Sardinha, e a Bahia tirou o vatapá do candomblé, dando mais uma força nas vendas de dendê e camarão. O fato é que hoje não se sabe onde isso vai parar.
Periga acabar em pizza ou churrasco. Como tudo aqui pelos trópicos.
Sem entender mais nada da data, resta-nos apenas desejar uma FELIZ PÁSCOA, seja lá o que signifique para cada um.
(traduzido)

+ coelhos e ovos da Páscoa

É Páscoa!
Que cara é esta, Sr. Coelho?
Como são feitos os ovos da Páscoa
Coelhos de chocolate.

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