08 abril, 2012

Demóstenes













A imprensa operou uma mágica em Demóstenes Torres: transformou rapidamente um político paroquial e inexpressivo numa personalidade nacional.
Demóstenes, para ganhar uma cobertura extraordinária de jornais e revistas, seguiu a receita clássica: falou o que os outros queriam ouvir. Basicamente, um discurso arquiconservador enfeitado por uma pregação moralista em que o governo era combatido pela óptica da corrupção.
Com isso, Demóstenes se tornou uma presença ubíqua, previsível e maçante na mídia. Ele se juntaria a um coral conservador do qual fazem parte articulistas como Merval Pereira, Ali Kamel, Marco Antonio Villa, Luiz Felipe Condé e Arnaldo Jabor. Todos eles falam, essencialmente, a mesma coisa, frases como que extraídas dos discursos de Ronald Reagan e Margaret Thatcher nos anos 1980. (Curioso que a nenhum deles ocorra fazer, já com a distância que vinte anos permitem, o balanço da obra que Reagan e Thatcher legaram aos Estados Unidos, ele, e ao Reino Unido, ela: declínio econômico acrescentado de uma elevação notável da desigualdade social. Cada um de seu lado do Atlântico, os dois criaram o que um economista americano chamou, num livro recente, de Nanny State ao contrário – Estados-Babás para os ricos.)
É vital que haja microfones para o pensamento conservador. Mas onde o contraponto para ajudar o leitor a formar opinião? Hoje, esse contraponto está praticamente confinado à internet no Brasil. Até por razões econômicas – o consumidor de notícias que não se sente representado é sinônimo de perda de circulação e de audiência – é imperioso para a indústria da mídia brasileira a retomada do equilíbrio perdido. O Deus Mercado, para usar uma expressão cara ao conservadorismo, demanda isso. Os leitores — eu incluído — ficarão felizes.
Demóstenes floresceu exatamente num ambiente de perda de pluralidade de idéias na mídia brasileira. Picaretas aparecem assim, porque a filtragem fica rala. Basta dizer coisas como as que Demóstenes dizia, e seu celular vai tocar, chamado por jornalistas que precisam de frases para preencher textos com ideias preestabelecidas. Das entrevistas telefônicas a convites para participar de programas na Globonews ou escrever colunas é um passo. (Numa rápida pesquisa que fiz, vi que Demóstenes tinha até uma coluna no blog de Ricardo Noblat, das Organizações Globo.)
Demóstenes pertencia claramente à categoria dos conservadores de conveniência. Espertalhões como ele sabem como atrair os holofotes, e se adaptam às circunstâncias. Se para conseguir espaço ele tivesse que adotar uma retórica de esquerda, com certeza Demóstenes andaria com um chaveiro de Marx no bolso e repetiria frases de Lenine. Homens como ele têm uma única ideologia: a do dinheiro.
Demóstenes usou a imprensa, com motivos pecuniários, para se promover. Foi usado por ela, por motivos ideológicos. E quem perdeu nisso foi o Brasil: é nociva para a democracia a crença de que todo político é corrupto. E é difícil fugir dessa conclusão ao ler a história de Demóstenes.
Há uma espécie de justiça poética no fato de que a notícia mais importante da política brasileira em muitos anos tenha nascido não da mídia — mas da Polícia Federal. Para a qual seguem aplausos de pé.
Clap, clap, clap.

Nas últimas semanas, li dezenas de artigos sobre as peripécias sulfurosas do "Senador Cachoeira", o Catão de Goiás. Este, de autoria de Paulo Nogueira, publicado no Diário do Centro do Mundo, destaca-se pela agudeza com que o articulista aborda o assunto.

Leitura complementar: A mancada do século

15/04/12 - Atualizando...
Nos últimos dias, o grande alimentador das matérias jornalísticas é o senador Demóstenes Torres. Ele, na condição de réu, passou a ter acesso às peças do inquérito Monte Carlo e, agora, vem vazando as informações que interessam a ele e a Cachoeira serem veiculadas pela imprensa amiga, do jeito que é conveniente a esta veicular. Todo circo montado pela Globo em torno dos telefonemas de Protógenes e em torno da Delta, visam unicamente a tirar Cachoeira, Demóstenes e Perillo do centro das discussões e chantagear os integrantes da CPI. Como na Itália, antes da operação Mãos Limpas, a imprensa brasileira tornou-se hoje um monstrengo em que o partidarismo político casou-se com a criminalidade. Ajudou a sepultar a Operação Satiagraha e a operação Castelo de Areia; fez de conta que não viu o livro Privataria Tucana e, agora, quer sepultar a Operação Monte Carlo. Assim, protege os seus aliados políticos e seus aliados criminosos, que, são ao mesmo tempo suas fontes e seus patrocinadores.
Comentário do internauta Lenilton. In: Conversa Afiada


22/09/2012 - Atualizando...
"Não tolero bandidos"

1 - Sexto programa eleitoral DEMÓSTENES 251
2 - Comentário do MUTLEY

6 comentários:

Nelson Cunha disse...

O corrupto não precisa roubar para ser um "político". Ele frauda a democracia quando nas eleições se apresenta José, e José não é.
A hipocrisia, azeite inofensivo das relacões sociais é o asfalto que pavimenta as carreiras políticas nas democracias ocidentais. As campanhas eleitorais, tocadas com base científica, elegem sempre os mais manipuladores, mentirosos e irresponsáveis. É por isso que a pior elite de uma nação são os seus políticos. Uma vez no governo, trabalharão pela sua continuidade, mesmo que para isso corrompam o eleitor dando a eles o que a nação não suporta dar e falando o que querem ouvir
Como bom anarquista eu digo:
Se foi eleito, sou contra!

Paulo Gurgel disse...

Um anarquista, graças a Deus.

Paulo Gurgel disse...

Em tempo:
"A eleição de campeões da moralidade é um fenômeno comum no Brasil. Em 1959, Jânio Quadros elegeu-se montando uma vassoura. Em 1989, triunfou Fernando Collor de Mello.
O primeiro renunciou numa tentativa de golpe de Estado e terminou seus dias apoquentado por pressões familiares para que revelasse os números de suas contas bancárias no exterior.
O segundo deixou o poder acusado de corrupção e viveu por algum tempo em Miami, elegeu-se senador e apoiou a candidatura de Demóstenes. O tesoureiro de sua campanha foi assassinado."
Autor: Elio Gaspari

Nelson Cunha disse...

Alguem com nome começado por Demo..
Filiado a um partido começado po Demo..
Definitivamente não pode ser santo.

Nelson Cunha disse...

Paulo,
Oscar Wilde tinha razão qundo dizia que:
"Um moralista é quase sempre um hipócrita; uma moralista invariavelmente, um bagulho."
O Demo do Demo deu razão ao inglês. Fosse uma Dama,que bagulho seria!

Nelson Cunha disse...

Não deixe de lado o PT, que sempre apontou a gula dos outros para esconder seu próprio apetite.