04 outubro, 2012

Os antecedentes das próximas horas

por Saul Leblon, Carta Maior
Quis o destino que a resposta da Presidenta Dilma Rousseff à soberba 'paulista' de Serra acontecesse num simbólico 2 de outubro. Nessa data, há 80 anos, Getúlio Vargas derrotou a secessão da oligarquia de São Paulo, cuja marca de fantasia se atribui o rótulo de 'revolução constitucionalista de 32'.
O tucano que se gaba de já ter disputado sete eleições para cargos executivos, enfrenta um crepúsculo de campanha -talvez de vida pública - perfilando assim no lado que lhe compete na história.
Em 12 de setembro, ao ranger do chão da candidatura que pode marcar a sua despedida política, Serra vestiu a farda da nostalgia separatista. E evocou prerrogativas pré-republicanas sobre o eleitorado de São Paulo.
Como um guardinha de 32, desengavetou a carabina da resistência à construção do Estado nacional, implementada então por Getúlio Vargas. E apontou a mira contra aquela cujo cargo e trajetória política simbolizam a presença de Vargas no Brasil atual.
"Ela vem meter o bico em São Paulo; ela que mal conhece São Paulo, vem aqui dar palpite", disparou o tucano para gozo da mídia oligarca que se esponjou em manchetes nostálgicas.
A filiação da frase foi captada pela Presidenta gaúcha Dilma Rousseff.
Uma saraivada de recados históricos soterrou o tucano na sua resposta. Em um palanque na periferia de São Paulo, junto a um conjunto popular, ao lado de um líder operário que ultrapassou as expectativas mais otimistas de Getúlio e se fez presidente por duas vezes, bem como do adversário direto de Serra no pleito municipal, Fernando Haddad, Dilma foi ao ponto.
Deu uma lição de republicanismo ao porta-voz do apartheid conservador nos dias que correm.
Disse a Presidenta :
"Eu morei na Celso Garcia; lutei contra a ditadura aqui; fui presa política em São Paulo. Foi pelas liberdades, pelo direito de cada um dos paulistas e dos brasileiros de meter o bico em todos os assuntos que eu lutei aqui em São Paulo. Devo a São Paulo não só respeito, mas gratidão por ter me protegido. Por isso, quem vai governar essa cidade é muito importante para a presidenta. Eu estou aqui metendo o bico em uma eleição porque para o Brasil, São Paulo é muito importante. E não tem como dirigir o Brasil sem meter o bico em São Paulo"
Em síntese, ela explicou a sinhozinho Malta que, desde Getúlio, São Paulo não é mais uma sesmaria consuetudinária dos endinheirados. Seu povo não compõe um protetorado eleitoral tucano; e ela, a exemplo de Vargas, em 30 e em 50; de Lula, em 2002 e 2006, não se sujeita às regras de quem arrota retórica liberal. Mas dispensa 'aos de fora' - os 'baianos', os gaúchos, os operários, os comunistas - as armas da capangagem política mais conveniente à ocasião.
Ontem, a secessão à bala; hoje, o golpismo conservador calibrado pela fuzilaria interrupta do bombardeio midiático. Não cometerá desatino histórico quem incluir na engrenagem dessa cortina de fogo o circo criado em torno do julgamento do processo 470.
[...]

2 comentários:

Fernando Gurgel Filho disse...

Os donos das Minas Gerais também tiveram sua resposta:

"A presidente Dilma Rousseff (PT) respondeu nesta quarta-feira (3) em Belo Horizonte às críticas feitas no início da semana pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) de que a líder petista seria uma "estrangeira" na política de Minas Gerais. "Nasci aqui [Belo Horizonte] no hospital São Lucas. Saí daqui para lutar contra a ditadura, e não para ir à praia. Aqui na minha veia corre o sangue de Minas Gerais, por isso sou presidente de todos os brasileiros", afirmou a presidente durante discurso de 25 minutos, no comício do candidato do PT à Prefeitura de Belo Horizonte, Patrus Ananias." in, http://www.paraiba.com.br/2012/10/04/65513-dilma-responde-aecio-e-diz-que-saiu-de-belo-horizonte-para-lutar-contra-ditadura-e-nao-para-ir-a-praia

Paulo Gurgel disse...

Aécio deseja liderar a oposição contra a Dilma, mas sabe o que a seção paulista da UDN vai dizer sobre isso?
"Até aí morreu o Neves."
Um abraço, Fernando.