21 agosto, 2015

A sinestesia como figura de linguagem

A sinestesia – do grego syn (junção) + esthesia – (sensação) é a transferência de uma sensação sugerida por um sentido para outro sentido.
Leia este trecho de uma obra de Mário de Andrade:
"Esta chuvinha de água viva esperneando luz e ainda com gosto de mato longe, meio baunilha, meio manacá, meio alfazema."
No período acima, Mário misturou diferentes tipos de sensações: visuais, olfativas e gustativas. A isso chamamos sinestesia, figura de linguagem que consiste em agrupar e reunir sensações originárias de diferentes órgãos do sentido.
Leia estes outros exemplos:
"Vamos respirar o ar verde do outono." (autor desconhecido)
(respirar = olfato / verde = visão)
"Sempre havia, ao amanhecer, uma cor estridente no horizonte." (Giuliano Fratin)
(cor = visão / estridente = audição)
"E um doce vento, que se erguera, punha nas folhas alagadas e lustrosas um frêmito alegre e doce." (Eça de Queirós)
(vento = tato / doce = paladar / frêmito = tato / doce = paladar)
"A melodia do pianista era doce e rósea em suas sublimes imensidões." (Giuliano Fratin)
(melodia = audição / doce = paladar / rósea = visão)
"Estende a mão trazendo a chuva, tocando o som do trovão." (Tiago Iorc)
(tocando = tato / som= audição)
A sinestesia, que também é aplicável à descrição de fenômenos provocados por condições neurológicas, não deve ser confundida com a cinestesia. A cinestesia diz respeito à capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão.

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3 comentários:

Fernando Gurgel disse...

Caryl Chessman, americano condenado à morte, no livro que escreveu "2455, Cela da Morte", dizia que, ao escutar música, via cores. Apesar de poético, parece que, para ele, era uma sensação nada confortável.

Paulo Gurgel disse...

As vítimas do "bandido da luz vermelha", ao verem esta cor, também tinham sensações pouco confortáveis (assalto, sequestro e estupro).

Eduardo disse...

Muito bom esse artigo! Fez-me lembrar muito um post que li há uns tempos, sobre Marketing Sensorial e como os diferentes sentidos se podem influenciar entre si e ajudar a promover uma determinada marca. Deixo aqui o link para quem estiver interessado em ler: http://mundodemusicas.com/marketing-sensorial/