11 março, 2016

A víbora de Russell

No artigo "How Snakes Move", na revista Scientific American de 1970, Carl Gans aponta um disparate em um dos contos policiais de Sir Arthur Conan Doyle protagonizado por Sherlock Holmes e Dr. Watson.
No conto The Adventure of the Speckled Band, Sherlock Holmes resolve um mistério de assassinato, mostrando que a vítima fora morta por uma cobra venenosa (Daboia russelii) que subira pela corda de um sino. O que Holmes não sabia era que a víbora de Russell não é uma cobra constrictora. Essa cobra, portanto, seria incapaz de realizar "movimentos de concertina" e não poderia ter escalado a corda. Ou, se a cobra atingiu sua vítima de alguma outra forma, o caso continua em aberto.
Isso é, de fato, desconcertante. Se não é pelo fato que víboras podem subir cordas, então como é que Holmes resolveu o caso? Se as víboras podem subir cordas no mundo de Holmes, mas não no nosso, então como podemos seguir o seu raciocínio em outros assuntos? Que outros recursos do mundo de Holmes  são diferentes do nosso?
Uma saída: "a história não diz que Holmes estava certo de que a cobra subiu pela corda", observa o filósofo David Lewis. Por isso, talvez a cobra chegou a sua vítima de alguma outra maneira, e Holmes então estava simplesmente errado.
David Lewis, "Truth in Fiction", American Philosophical Quarterly, janeiro de 1978

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