01 março, 2017

A Sra. Hora de Greenwich

por David Rooney
O Museu dos Relojoeiros (The Clockmakers' Museum) em Londres é o lar de muitos relógios maravilhosos. Numa de suas vitrines, pode-se ver um relógio de bolso com a aparência modesta e que seria fácil de ser perdido.
No entanto, tomou parte em uma história muito perto do meu coração, a história de Ruth Belville, a Sra. Hora de Greenwich (Greenwich Time Lady), cuja biografia escrevi em 2008.
O relógio de bolso em exposição no Museu dos Relojoeiros foi originalmente de propriedade de John Belville, astrônomo sênior do Royal Observatory Greenwich, que o usou entre 1836 e sua morte em 1856, depois de levar com precisão a Hora de Greenwich a uma rede de assinantes em Londres, cada um pagando uma taxa anual para receber uma visita semanal do relógio.
Em 1836, não havia melhor maneira de saber a hora certa no centro de Londres. O relógio de bolso de John Belville era o estado da arte do tempo, proporcionando o tempo com uma precisão de um décimo de segundo.
A história poderia ter terminado com a morte de John Belville em 1856. Por esse tempo, informações de horas por telégrafo começavam a surgir, fornecendo a hora exata para qualquer pessoa com o equipamento certo.
No entanto, muitos dos assinantes de John estavam dispostos a continuar com a tecnologia que conheciam e confiavam. E pediram a sua viúva, Maria, para assumir o seu negócio.
Maria Belville continuou realizando o serviço, com o mesmo relógio, por mais 36 anos, até 1892, quando decidiu se aposentar.
Novamente, o serviço poderia ter terminado ali. Por esse tempo, a hora através do telégrafo era uma tecnologia estabelecida, com empresas comerciais concorrendo pela prestação do serviço. Mas o telégrafo elétrico, embora mais moderno, não era tão preciso nem tão confiável quanto o velho relógio de bolso.
Em minha pesquisa, descobri inúmeras reclamações por escrito sobre o serviço de tempo dos Correios. Parece que a empresa tinha um monte de problemas para manter suas linhas em ordem, enquanto Maria Belville funcionava, semana após semana, regular como um relógio. Assim, quando ela se aposentou, muitos de seus assinantes pediram a sua filha, Ruth, para entrar no negócio da família.
E aqui está a parte mais surpreendente da história. Ruth Belville prosseguiu realizando o mesmo trabalho com o relógio de bolso do século XVIII, a cada semana, por mais de 48 anos.
Durante o reinado de Ruth, transcorreu a era da rádio, com a BBC a transmitir o som do Big Ben desde 1924. E o telégrafo elétrico também estendeu seu alcance e sua confiabilidade.
No entanto, ainda havia um mercado para a tecnologia mais antiga do relógio de bolso. As novas tecnologias não substituem de imediato as mais antigas. Elas podem coexistir por muito mais tempo do que poderíamos supor.
Ruth finalmente se aposentou em 1940, aos 86 anos de idade, quando a Segunda Guerra Mundial tornou impossível que ela continuasse andando pelas ruas com segurança. E o fez com uma grande sensação de melancolia por sentir que o seu tempo havia-se esgotado.
Era o fim de um notável capítulo que durou 104 anos na história da distribuição do tempo e da tecnologia em geral.
Ela faleceu em 1943.
Tradução: PGCS

https://blog.sciencemuseum.org.uk/ruth-belville-the-greenwich-time-lady/
http://www.futilitycloset.com/2016/06/06/podcast-episode-108-greenwich-time-lady/

Ver também: O despertador humano

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